terça-feira, 24 de agosto de 2004

O COMÉRCIO DA DROGA

-O problema fulcral do uso e consumo de droga prende-se com a facilidade de acesso, por parte dos jovens, sempre que estes pretendam iniciar-se no consumo.
Ou porque se assiste ao ritual de preparação do caldo, ou porque alguém comprou e pode dispensar um pouco, ou ainda por qualquer uma das mil razões que levam um jovem até ao primeiro xuto, o que está sempre presente é a possibilidade de adquirir com extrema facilidade o produto da iniciação.
Pese qualquer esforço no sentido de combater o tráfico, de limitar os supermercados da droga, de penalizar os traficantes, dos programas de desintoxicação, da metadona, etc., a experiência diz-nos a todos que por aí não se vai a parte alguma que não seja a do aumento desenfreado, assustador e destrutivo do número de jovens que diariamente se perdem no seu consumo.
A solução que passo a apresentar é tão simples que quase me atrevo a pensar que ainda não foi implementada, não por ninguém a ter pensado, mas por haver interesses que o impedem. A ser assim - e nem quero acreditar que o seja - o crime vai muito para lá dos meros traficantes, incluindo então gente de colarinho branco lucrando com a ruína e destruição de uma juventude sofredora:
Todo e qualquer viciado, sem qualquer tipo de discriminação, após sujeitar-se a um exame médico que confirme a sua situação, passará diariamente a receber gratuitamente as doses de heroína ou cocaína que lhe sejam necessárias, ministradas por pessoal especializado e credenciado em centros hospitalares devidamente preparados e equipados.
Pronto, é só isto!
A partir daqui os traficantes vendem droga a quem? Um potencial novo consumidor compra onde?
O risco da importação e tráfico de estupefacientes só se justifica havendo um número razoável de compradores; o tráfico não se faz tendo em mira potenciais novos consumidores. Não havendo compradores porque carga de água alguém persistiria em colocar à venda um produto sem procura?
Para os "agarrados" garante-se-lhes a pureza do produto que consomem, impede-se-lhes a necessidade de se prostituírem ou recorrerem ao crime para conseguir o dinheiro para a dose, diminuindo-se ainda drasticamente o risco de contágio de doenças infecciosas.
Aos nossos filhos - e é este o ponto mais importante do sistema - vedamo-lhes o acesso à droga porque não vão decerto encontrar onde a comprar!
Como contribuintes, fica-nos mais barato importar anualmente umas quantas toneladas de cocaína que pagar toda a actual parafernália de esquemas que cercam o fenómeno da droga. (Será que todos os que vivem hoje do facto de existirem drogados - "clínicas", "associações", "centros", "gabinetes", "especialistas", "acompanhantes", "psicólogos", etc. etc. etc. - poderão um dia viver fora disso?).

O fenómeno só se estanca combatendo um cartel com um monopólio mais forte.
O Estado deve nacionalizar imediatamente o negócio da droga criando um monopólio que "seque" toda a concorrência!
...A sociedade está hoje alicerçada em acordo com essa nova realidade: o consumo desregrado de drogas.
Uma miríade de profissionais depende dela para prover o seu próprio sustento e necessidades.
É impensável que um técnico de desintoxicação ou o proprietário de uma clínica de recuperação desejem verdadeiramente o fim deste flagelo:
Viveriam então de quê?
...E são já muitos milhares os novos dependentes desta outra realidade!
Tal como os assistentes sociais necessitam de pobres para justificar os seus empregos.
Tal como as igrejas necessitam da desgraça para providenciar o seu auxílio.


É pena que o governo por vezes só veja o que lhe interessa porque senão já teria tentado resolver esta questão. Que façam algo que realmente resulte, e se querem a minha opinião: as salas de chuto não vão dar em nada, não vai ser por isso que vão deixar de existir drogados, ne? A única coisa que pode surgir è um pouco de concorrência aos traficantes. Mas isto é só a minha opinião; não tenho qualquer experiência no assunto, falo por aquilo que ouço falar. Continuem a lutar pelas vossas ideias e talvez um dia tudo se resolva. Mas ninguém pode falar por aqueles que consomem, e que sabem realmente o que é ter de suportar certas coisas que só eles mesmos sabem. Legalizem as drogas leves assim não haverá certas pessoas presas por quase nada, e haverá muito mais concorrência aos traficantes.
Não sou consumidora de qualquer tipo de drogas mas isso para já não interessa, acredito que se toda a gente pensasse como `nos`, Portugal já teria reparado que a forma como está a combater o problema não nos leva a lado nenhum.
Não basta criar salas de chuto ou pôr a GNR atrás dos traficantes, isso só serve para que haja cada vez mais gente nas prisões para nada! Sou totalmente a favor da legalização da droga, pelo menos marijuana (droga considerada leve) porque talvez assim o fruto proibido deixe de ser o mais apetecido, alem disso já existem inúmeros países que legalizaram certas drogas. Lembrem-se que a vida é altamente, mais ainda sem drogas!

O_o

...A propósito:

INTERVENÇÃO DO PRESIDENTE DA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA
NA CELEBRAÇÃO DO 166°. ANIVERSÁRIO DO SUPREMO TRIBUNAL DE JUSTIÇA

(...) Sabemos hoje que só a economia global da droga ultrapassa já a economia global do petróleo. E que os fabulosos lucros ilícitos de todos aqueles tráficos, após cuidadosas operações de branqueamento, são depois canalizados para o sector económico legal, de cujas alavancas se vão assenhoreando, bem como do correspondente poder. Por este caminho, as forças do mal conquistarão a direcção do Mundo.
E também sabemos que as políticas criminais do passado são pouco menos do que inúteis no combate a este novo flagelo. Combater o crime organizado a nível global em moldes empresariais e científicos, abençoado por todos os sacramentos das modernas tecnologias, através de policias nacionais e artesanais, de juízes de comarca espartilhados em leis territorialmente circunscritas, quando não arcaicas, e de instrumentos científicos do tempo da Maria Castanha, é enganarmo-nos a nós próprios.
O mais das vezes, do que se precisa não é de investigações policiais, de condenações judiciais, e de encarceramentos prisionais que só apanham, quando apanham, o peixe miúdo, mas de medidas políticas, o mais possível a montante da criminalidade a combater .
Ninguém desconhece que, a generalidade da nossa população prisional, são os "sans coulote" da marginalidade social, sendo mais do que rara a identificação, e ainda menos a prisão, de um criminoso dito de "colarinho branco". Esse é amigo do Rei, priva com poderosos e corrompe-os, ou mete-lhes sereias na cama. Recebe condecorações e, por desfastio, dedica-se também a obras de caridade.
Ninguém desconhece que cerca de metade da população prisional está na cadeia porque foi apanhada nas malhas da toxicodependência. Apesar disso continuamos a potenciar os lucros dos cartéis da droga, encarecendo-a até limites que deixam o ouro a perder de vista, através da proibição do seu comércio. Os cartéis, reconhecidos, agradecem.
E será que sou o único a pensar que a liberalização do comércio de drogas — que acarretaria de imediato o fim do lucro e do crime ligados ao seu tráfico — é mais difícil de concretizar por razões advindas da lógica dos interesses do que da lógica dos princípios? Se assim é, que salvação podemos ter? (...)

(Bem dito!!)

Sem comentários: