quinta-feira, 26 de agosto de 2004

Nas margens do Douro e Tua :o)

"Pouca terra, pouca terra" nas margens do Douro e Tua
Hoje no Diário de noticias;o)
Quinta-Feira,
26 de Agosto de 2004

«Pouca terra, pouca terra.»
É a lengalenga que passa de geração em geração para definir o movimento do comboio. Nunca percebi bem porquê. É que, nas vezes em que viajei neste transporte, vi «muita terra, muita terra». Este Verão, pensei, por momentos, ter encontrado a origem da frase quando viajei ao longo do Douro e do Tua. As linhas férreas seguem ao longo dos rios e estes mudam de cor consoante a paisagem, e as margens estão mais ou menos afastadas.

O rio Douro é mais imponente, forte e abastado, como também o são as rochas, vinhas, quintas e casas senhoris que o envolvem. O Tua é mais pequeno e delicado, mas também mais traquina, correndo por entre lajes de pedra, uma vezes cinzenta outras esverdeada pelo musgo.

E os comboios parecem respeitar tal diferença. Na linha do Douro, que liga o Porto ao Pocinho, circulam três inter-regionais diariamente em cada um dos sentidos e com várias carruagens. Na linha do Tua, que liga a localidade a Mirandela, há apenas uma carruagem e que faz parte do Metro de Superfície de Mirandela, duas viagens por dia em ambos os sentidos.

Mas também não dá para mais, já que a linha é única, efectuando-se a troca dos carris a meio do percurso. Um momento que alguns passageiros aproveitam para fumar um cigarro ou fazer outras necessidades. Perdoem-me, mas este «comboio» mais parece um eléctrico, com a grande diferença de que tem ar condicionado. E que bem que este sabe quando a temperatura sobe aos 38/40 graus!

Os passageiros também são diferentes ou, então, estão mais espalhadas nos comboios que fazem a linha do Douro e mais concentradas no do Tua. Aqui, tudo parece mais familiar, são sobretudo rurais que vão tratar dos assuntos mais importantes à cidade (Mirandela).

TUA. Chamam-lhe a «jóia da coroa» das linhas ferroviárias portuguesas. Um adjectivo maioritariamente atribuído pelos estrangeiros que comparam o traçado da linha ao dos Alpes Suíços. São as lajes de pedra, os montes e os vales, a quem a linha faz uma marcação cerrada. A traseira da composição é o melhor local para se admirar a paisagem. A linha, 55 quilómetros entre Tua e Mirandela, foi inaugurada em 1887, pelo rei D. Luís. Culminavam dois anos de intenso trabalho, dos engenheiros aos operários, na disputa de espaço à vegetação local e, sobretudo, às rochas.

A viagem dura hora e meia, começando depois do primeiro quilómetro com uma sucessão de túneis que esventram a pedra, intervalados pelos carris debruçados sobre o rio. É de cortar a respiração, sobretudo os primeiros 11 quilómetros. Às vezes, as duas margens estão tão próximas que a água se torna verde-escura, outras abrem-se perante os vales e olivais, surgindo o rio num azul-vivo.

DOURO. A linha liga o Porto ao Pocinho tem 175 quilómetros e demora quase quatro horas a percorrer. As primeiras ligações na zona remontam a 1875, mas a linha de São Bento (Porto) até ao Pocinho só ficou concluída em 1889.

Os 70 quilómetros iniciais podem ser aproveitados para ler, já que pouco há de interess. O comboio viaja pelos dormitórios do Grande Porto, com uma ou outra estação em especial, onde se pode admirar os azulejos. E, claro, começa-se pela de São Bento.

A partir do Juncal, deixe a leitura ou conversa e posicione-se bem para assistir ao desfile do rio e das suas maravilhosas paisagens. A linha férrea segue-o até ao Pocinho, sendo a partir de Mosteirô que os dois estão mais próximos, acabando por se cruzarem já depois de Tua.

O comboio circula por entre túneis (11) e pontes (9), ladeados primeiros pela pedra e depois pelas vinhas imensas da Região Demarcada do Vinho do Porto. Começam em Barqueiros e avançam até à Régua, numa visita guiada às melhores castas do tão apreciado líquido. Quintas com as suas casas senhoris, uma ou outra já transformada em turismo de habitação.

E chega-se ao Pocinho, localidade que fica a dois quilómetros de Vila Nova de Foz Côa e que é imperdoável não visitar, mesmo que não tenha feito a marcação para se deslocar às gravuras do paleolítico. Dois taxistas que esperam a chegada do comboio fazem a ligação, nomeadamente uma motorista que é tão despachada a guiar como a conversar. A ida e volta para a vila fica por seis euros. O cliente só paga na volta e... pela tabela!

Por céu neves

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