terça-feira, 14 de dezembro de 2004

Folha Branca

Percorro as várias páginas em branco
desse bloco inexistente de papel
inconseqüentemente encontro nelas

uma poesia qualquer a ser escrita
já que não sei desenhar
e daí repito Lao-Tse
"É numa folha em branco que se escrevem
os mais belos poemas".

Minh'alma não é branca nem nada
ela simplesmente paira, quedada muda
olhando o abismo inexistente entre ela e mim.
E aí termina a semelhança

por começar a igualdade.
Eu e ela vemos coisas onde as pessoas vêem beleza
mas ela vê as coisas como elas são
e eu vejo as coisas como mera ilusão
dela e de mim. E na verdade de todos.

E é dessa diferença, desse abismo entre ela e mim
que nascem de diversas formas e em diferentes momentos
as poesias que nunca escrevi

ou aquelas que um dia nunca escreverei
Pois na verdade só podem ser escritas

aquelas que o agora revela,
sem a dor dos passados

ou a insensatez do futuro
Se antes nasciam nos momentos obscuros e solitários
ou nos dejetos da família ainda existente
hoje nascem nos guetos, nos bordéis ou nas sarjetas
Mas não são poesia como as querem alguns
São simplesmente imagens multifacetadas
de um tédio decomposto de mim e do presente
Talvez melhor seria ou fossem
nada resta, nada foi, nada é e nada serão.
Mas estão sempre presentes nesses momentos
de desencontro entre minh'alma e mim.
E um dia acharei as páginas faltantes desse livro
que está dentro de mim e daí talvez encontre poesias.
Por enquanto simplesmente procuro no índice
e a poesia sai quando acho uma folha em branco.
Em branco como se fosse a neve que nunca vi!!!

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